Seu sonho, nossa realidade!

As lendas da madeira e suas características

28/05/2010 00:04

Hoje, após muito estudo e um bom tanto de prática vejo muitos luthieres iniciantes e músicos falando erroneamente sobre madeira. Questões como:

_ Madeira clara dá/possui timbre grave/agudo

_ Madeira densa dá/possui timbre grave/agudo

_ Cor da madeira define timbre

_ Madeira X é melhor que madeira Y

_ Madeira X tem mais sustain que madeira Y

_ Para o instrumento ser bom a madeira precisa secar por pelo menos N anos.

 

Estas e inúmeras outras questões são levadas como verdades absolutas por algumas pessoas, mal sabem elas que todas são falsas verdades.

Para começar, vamos a uma pequena explanação sobre o comportamento da madeira e algumas de suas características principais e determinantes.

1. A Madeira é um material higroscópico, ou seja, ela absorve e perde água para o ambiente onde está. Logo, o período de secagem não é tão influente quanto a qualidade e condições em que esta secagem foi feita. Uma estufa pode fazer em alguns meses o que a natureza nunca chegaria a fazer ou demoraria décadas.

Isto nos remete à seguinte questão "Para o instrumento ser bom a madeira precisa secar por pelo menos N anos". FALSO! O que é verdadeiro é o aumento da estabilidade da madeira com o passar dos anos. Quanto mais velha a madeira, mais estável, portanto, mais favorável à construção de instrumentos musicais. No entanto, por mais velha que a madeira seja, não servirá para luthieria se possuir um alto teor de umidade (12% já é um bom patamar, acima de 20% é inútil para luthieria).

2. Madeira não dá som, tira som! A madeira não produz frequências, quem produz é a vibração das cordas, o captador capta estas vibrações e o meio em que ele está, seja madeira, acrílico, alumínio ou qualquer outro material, influencia na transmissão destas ondas. Cada peça de madeira tem características próprias e corta determinadas frequências. Um exemplo clássico é o mogno, que mesmo variando de peça para peça, é rotulado como tendo um favorecimento aos graves. O mogno não favorece as baixas frequencias, na verdade ele corta mais as faixas agudas, fazendo com que a ênfase seja nos médios/graves. Falando de forma simplificada e direta: a madeira funciona como uma espécie de equalizador natural do instrumento. Por isso, algumas combinações de madeiras e alguns tipos específicos raramente se transformam em um bom instrumento.

3. A Densidade da madeira. Há muita gente que relaciona timbre à densidade. Mais uma vez, lenda. A densidade não tem influência direta com timbre. Para quem não sabe, densidade é massa dividida por volume. Há diversas características físicas que podem influenciar a timbragem da madeira, dentre elas, Frequencia de vibração, comprimento de onda, Decaimento logarítmico, posição dos veios, poros abertos/fechados, etc. Não existe uma única característica que prove sua influência direta no som. Além destes, ainda temos a imensa influência dos vários tipos de captação, seus esquemas elétricos, amplificadores, cabos, pedais, etc. Vamos aos exemplos:

Madeiras secas a aproximadamente 12%:

Agathis - Densidade em 0,45g/cm³, cor clara à média, som característico: valorização dos agudos.

Mogno - Densidade em torno de 0,65g/cm³, cor mediana, som característico: valorização dos graves.

Basswood - Densidade em torno de 0,4g/cm³, cor clara, som característico: valorização dos médios/graves.

Maple - Densidade em torno de 0,65g/cm³, cor clara, som característico: valorização dos agudos.

Jacarandá - Densidade em torno de 1g/cm³, cor escura, som característico: valorização dos agudos.

Comparando estes exemplos podemos ver que não há influencia de cor e densidade no timbre final das madeiras em geral. Logo:

- Cor da madeira NÃO influencia diretamente no som.

- Densidade da madeira NÃO influencia diretamente no som.

4. Melhor Madeira e Madeira com maior sustain. Aí, novamente entram as lendas da luthieria. Primeiramente vamos ao assunto 'Madeira X é melhor que madeira Y'. Há inúmeras espécies que podemos usar na luthieria, dentro deste limite de espécies que possuem as características necessárias para serem usadas, encontramos um grande preconceito contra as madeiras pouco usuais e um grande favorecimento às clássicas como o maple, mogno, abeto (spruce), alder, ash, etc. Com a prática aprendi que não há uma madeira melhor ou pior (salvo algumas exceções), e sim uma melhor peça de madeira. A escolha da peça a ser trabalhada possui influência infinitamente superior à espécie a qual esta peça em questão pertence.

Agora, finalizando, entramos na questão do sustain. Há uma forma de medição, o Decaimento Logarítmico, que pode indicar peças de maior e menor sustain. Algumas espécies possuem uma leve tendência a possuir um baixo índice logarítmico (quanto menor o índice, maior o sustain). Contudo, novamente, a variação de peça para peça é muito grande. Até mesmo pedaços de uma mesma árvore podem apresentar diferentes significativas. Algumas pessoas preferem dizer que a Les Paul tem sustain maior que a Stratocaster porque a Les Paul é de mogno. Novamente... FALSO! O fator que mais influencia o sustain é o modo de construção. Além disso, existem fatores como captação, posicionamento dos captadores, ferragens (ponte, tarrachas, etc) e parte elétrica, que influenciam diretamente em todo o som da guitarra, inclusive em seu sustain. Logo, não se pode afirmar que uma madeira por si só, dará um timbre 'melhor' que outra. Por falar nisso... só uma curiosidade: O mogno possui decaimento logarítmico um tanto alto (em torno de 0,027 enquanto o jacarandá possui valores próximos a 0,016), portanto ele deveria possuir menos sustain... Então???

 

Não percam os próximos artigos! Contaremos a história da guitarra e do baixo elétrico, discutiremos captação passiva x ativa, humbuckers x singles, explicaremos como funciona o captador e colocaremos à prova novas lendas da luthieria!

 

Att: João Guilherme Penteado - Luthier Red Fox Guitars.

 

fontes:

TELES, R. F. Avaliação Acústica das novas espécies para utilização em instrumentos musicais. Brasília, 2005.

FERNANDES, G. de A. Avaliação de madeiras brasileiras para utilização em guitarras elétricas. Brasília, 2004.

BUCUR, V. Acoutics of Wood. CRC Press. 1995

https://www.ibama.gov.br/lpf/madeira

 

Contato

Red Fox Guitars

contato@redfoxguitars.com

(42) 4141-1700
(42) 9947-8927

Pesquisar no site

Últimos produtos adicionados

Enquete

Qual sua marca de guitarras favorita?

© 2010 Todos os direitos reservados.

Crie um site gratuitoWebnode